Estive no Web Summit Rio 2025 com o radar ligado para as grandes transformações que estão moldando o futuro da tecnologia, dos negócios e, claro, do e-commerce. O evento, que reuniu mais de 34 mil pessoas, 1.400 startups e 400 palestrantes no Riocentro, deixou claro: o Brasil não é mais coadjuvante quando o assunto é inovação.

Logo no primeiro dia, ficou evidente que a protagonista da edição seria ela – a inteligência artificial. Mas, diferentemente de outros eventos em que a IA é só hype, aqui o papo foi mais profundo e realista. Márcio Aguiar, da Nvidia, apresentou as evoluções da tecnologia, passando da Perception AI para a Agentic AI, um novo patamar de sistemas capazes de agir e tomar decisões por conta própria. Priscyla Laham, da Microsoft Brasil, trouxe uma visão prática sobre como a IA está moldando empresas, enquanto Nicolas Robinson Andrade, da OpenAI, puxou um alerta: precisamos pensar urgente em regulamentações éticas, principalmente na América Latina.
Como Co-CEO da FRN³, me chamou atenção como essas discussões saíram do “tech pelo tech” e caminharam para impactos reais. Seja na performance de campanhas, na personalização da jornada de compra ou até em ferramentas de CRO, a IA está se tornando parte do nosso cotidiano. E quem não estiver olhando para isso com atenção vai ficar para trás.
Redes sociais, inclusão e o impacto das plataformas
Outro tema que se destacou – e que tem conexão direta com o comportamento do consumidor – foi o papel das redes sociais. Kate Conger, jornalista do The New York Times, levantou o debate sobre Elon Musk, liberdade de expressão e o impacto das plataformas nas eleições. Enquanto isso, nomes do TikTok e YouTube falaram sobre como o conteúdo nativo e personalizado está mudando a forma como as marcas se conectam com suas comunidades.
Também tivemos momentos inspiradores sobre diversidade e impacto social. Justina Nixon-Saintil, da IBM, trouxe exemplos reais de como a tecnologia pode – e deve – ser uma aliada em pautas de inclusão e sustentabilidade. E figuras como Felipe Neto e Taís Araújo ajudaram a humanizar ainda mais essas conversas.
Mas o que mais me empolgou foi ver o quanto o Brasil está ganhando protagonismo. Não só pelas startups incríveis que estavam lá, mas pela forma como estamos entrando nos debates certos: ética, futuro do trabalho, IA generativa e inovação com propósito. Fica claro que nosso papel como líderes do digital é conectar tecnologia com contexto, com cultura e com impacto.
Regulação da IA e implicações para o e-commerce
Essa percepção ficou ainda mais evidente durante a participação do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF. Em sua fala ao lado de Ronaldo Lemos, ele trouxe uma reflexão valiosa sobre os desafios da regulação da inteligência artificial. Barroso defendeu que o caminho mais sustentável é criar diretrizes baseadas em princípios – como transparência, supervisão humana e segurança jurídica -, e não em regras rígidas que não acompanham a velocidade da tecnologia.
Essa abordagem me fez pensar sobre a responsabilidade que temos, também no e-commerce, ao adotar ferramentas de IA. Barroso compartilhou como o STF já utiliza sistemas como o Victor, para identificação de precedentes, e o Maria, para sumarização de documentos – soluções que aumentam a eficiência sem abdicar da supervisão humana. Essa lógica vale para nós, varejistas e indústrias: algoritmos podem agilizar processos, mas não substituem o julgamento crítico ou o cuidado com a experiência do cliente.
Barroso ainda destacou a importância de preservar valores como privacidade, liberdade individual e proteção à democracia. Isso reverbera fortemente no comércio digital, especialmente quando usamos IA para personalizar ofertas, moderar reviews ou construir clusters de audiência. A precisão dessas ferramentas não pode ser maior do que nosso compromisso com a ética. Mais do que nunca, precisamos evitar viés e discriminações replicadas por dados mal interpretados.
Ao defender liberdade de expressão nas redes sociais e, ao mesmo tempo, alertar sobre os riscos da desinformação, Barroso reforça que a governança da tecnologia não é apenas uma missão do Estado, mas também de quem constrói plataformas e experiências digitais. Temos o dever de entender que, ao modelar algoritmos, estamos também moldando relações sociais, escolhas de consumo e comportamentos culturais.
O diálogo entre judiciário, setor privado e sociedade civil não deve ser pontual – ele precisa ser contínuo. E o Web Summit Rio cumpriu um papel essencial ao promover essa troca multidisciplinar. Para quem atua no e-commerce, fica o recado: inovação sem responsabilidade é um risco. E ética sem aplicação prática é só retórica.

Abaixo, alguns dados que reforçam esse novo cenário:
– +34 mil participantes no evento: número recorde para a edição no Brasil.
– +1.400 startups apresentando soluções em IA, saúde, logística e e-commerce.
– 86% dos palestrantes abordaram temas relacionados à inteligência artificial e à automação.
– IA generativa foi o termo mais citado nas plenárias, seguido por “regulação digital” e “inclusão tecnológica”.
O Web Summit Rio 2025 não foi apenas um evento de tecnologia, foi um chamado para responsabilidade. O mercado precisa estar pronto para lidar com as ferramentas, mas também com as consequências. Como agência, saímos de lá ainda mais certos de que o futuro do digital é inteligente, mas também humano.
E como eu costumo dizer: não é sobre o que a tecnologia pode fazer por você, mas sobre o que você faz com a tecnologia.