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IA que escuta, aprende e age: como o e-commerce pode virar o jogo usando dados de forma inteligente

Por: Eduardo Freire

Eduardo Freire é CEO da FWK Innovation Design, uma fazedoria especializada em estratégia e inovação corporativa. Criador do Project Thinking - abordagem adotada por grandes empresas no Brasil, EUA e Europa -, Eduardo ajuda organizações de e-commerce a conectarem estratégia, cultura e execução para acelerar projetos de transformação digital, impulsionar vendas com inovação em IA e fortalecer lideranças orientadas a resultados. Atua como advisor em iniciativas de impacto no varejo digital, além de saúde, governo e indústria. Reconhecido como um dos 50 principais líderes globais em Design Thinking pelo ranking Thinkers360 – 2025, integra estratégia, tecnologia e cultura para impulsionar negócios. É autor, palestrante e mentor, inspirando marcas a criarem experiências digitais ágeis e impactantes.

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No primeiro artigo desta coluna, discutimos como a escuta ativa, aliada à inteligência artificial, pode ajudar a entender melhor o consumidor. Mas e depois de escutar? O que fazemos com o que aprendemos?

Mão analisando gráficos impressos com elementos digitais que representam inteligência artificial e dados.
Imagem gerada por IA.

A maior parte do varejo digital ainda trata dados como um fim, não como meio. Captura-se muito, interpreta-se pouco e age-se menos ainda. O resultado é uma jornada de compra incoerente: o cliente fala, mas a empresa parece não escutar de verdade. Ou pior, escuta, mas não muda nada.

Se queremos que a IA gere valor real no e-commerce, ela precisa aprender com os dados e transformar isso em ações práticas. A seguir, trago três frentes onde isso já é possível:

1. Preços que escutam o cliente (sem parecer oportunistas)

    A precificação dinâmica baseada em IA permite ajustar valores conforme demanda, perfil de cliente e estoque. O problema é quando isso se torna uma “armadilha”: o cliente percebe que está pagando mais só porque voltou ao site ou está usando o celular. Aí, a inteligência vira esperteza.

    Cases como Amazon e Mercado Livre mostram que é possível combinar IA com ética de preço. Preços que se adaptam com coerência e transparência fortalecem a relação com o consumidor e aumentam a taxa de conversão.

    2. Personalização que realmente retém clientes

      Não basta colocar o nome da pessoa no e-mail. A IA pode prever abandono de carrinho, sugerir ofertas baseadas no histórico e reativar clientes inativos com conteúdo relevante.

      Mas poucos varejistas exploram isso com consistência. Segundo relatório da McKinsey, empresas que personalizam com base em IA têm um aumento de até 20% na retenção de clientes. No Brasil, empresas como Magalu, Petz e Wine têm se destacado nessa frente, integrando dados, conteúdo e relacionamento em fluxos mais empáticos e contextuais.

      Dica prática: personalização precisa ir além do superficial. Crie jornadas baseadas em comportamento e contexto, não apenas em cliques. Faça da IA uma ponte entre dados e conexão real.

      3. Operações invisíveis, mas decisivas: IA no back-end da confiança

        A experiência de compra online é digital, mas a frustração é física e imediata. A IA pode prever demanda, otimizar estoque, planejar rotas logísticas e evitar promessas não cumpridas. Não é sexy, mas é o que sustenta a reputação e o retorno do cliente.

        Mas quando a automação não é calibrada com empatia, o tiro sai pela culatra.

        Recentemente, ao comprar um item colecionável pela Amazon, finalizei a compra e percebi que o endereço estava errado – o de um sócio meu. Em menos de três minutos, entrei em contato com o suporte. Porém, o sistema já tinha disparado todo o processo logístico automatizado. O item foi entregue, devolvido e, pior, não tive nenhuma garantia de recompra, mesmo sendo o cliente de sempre e com histórico.

        A IA funcionou. Mas para quem? A experiência do cliente, nesse caso, falhou – e esse é o ponto.

        Dica prática: IA no back-end precisa ser combinada com “human-in-the-loop” para casos críticos. Identifique pontos de reversibilidade antes de automatizar fluxos rígidos demais. Eficiência operacional só gera valor se for acompanhada de resiliência e sensibilidade.

        A diferença entre inteligência e automatização está na empatia

        A IA não é um oráculo. Ela precisa ser alimentada com boas perguntas e direcionada para boas decisões. A escuta ativa é só o primeiro passo. O verdadeiro diferencial está em como transformamos dados em ação – com empatia, ética e foco no que importa: o cliente.

        Se a automação isola ou frustra o consumidor, ela está apenas substituindo o humano pelo erro em escala. Inovação não é automatizar tudo – é automatizar com sentido.

        Na próxima vez que sua IA sugerir algo, pergunte: isso é uma resposta inteligente ou apenas uma repetição automática? Porque, no fim, a diferença entre um robô eficiente e um negócio inteligente é a capacidade de agir com coerência.